ZECA, VOLTA SEMPRE, A CASA COIMBRÃ É TUA

Sansão Coelho em 24 fevereiro 2015
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JOSÉ AFONSO FOI LEMBRADO POR AMIGOS NO CONSERVATÓRIO DE COIMBRA NO DIA DOS 28 ANOS DA SUA MORTE

A noite de ontem no palco do CONSERVATÓRIO de MÚSICA de COIMBRA teve cheiro a cravos vermelhos, o perfume da saudade e o afeto doce da homenagem, na evocação de um dos mais brilhantes cantores e compositores da música portuguesa e que começou na Escola de Coimbra: ZECA AFONSO.
Completaram-se, ontem, 28 anos do desaparecimento físico de JOSÉ AFONSO.A sua obra poética e musical, por ser imorredoira dada a sua alta valia, continuará,
agora, e para sempre. As músicas do Zeca são das mais cantadas de Portugal por esse mundo fora. Começou a cantar Fados de Coimbra no antigo Liceu de D. João III (atual José Falcão). Participou na Tuna e no Orfeon Académico. Concluiu a sua licenciatura na Faculdade de Letras da Universidade de Coimbra com uma tese dedicada a Sartre em 1963. Depois de uma infância passada em vários pontos de Portugal, e também nas antigas colónias de Angola e Moçambique dada a profissão dos pais, JOSÉ AFONSO foi ganhando ampla notoriedade como cantor e compositor. As suas primeiras BALADAS, além de trazerem marca de inovação ao Fado e Canção de Coimbra, são testemunhos de uma Intervenção Social e Política que José Afonso veio a fazer através da música. Sedimentou qualidade. Refinou o seu pensamento político. Cada vez mais ATIVISTA ligou-se aos movimentos então catalogados como Vanguarda.
Antes da Revolução do 25 de abril de 1974 sentiu dificuldades económicas por um casamento madrugador e porque a sua vida de professor foi travada pela polícia política de então e a censura cortou a divulgação de várias das suas criações e interpretações. Nem sempre terá sido um bom vendedor dos seus espetáculos pelo menos daqueles em que podia ganhar dinheiro porque foram inúmeros os que deu gratuitamente para o povo, sindicatos, associações de moradores. CANTOR DE INTERVENÇÃO Zeca surpreendeu ao regressar, JÁ PERTO DO FINAL DA SUA CARREIRA, ao Fado de Coimbra clássico para homenagear seu pai e também Edmundo de Bettencourt. Zeca desejou fugir de convencionalismos e de aplausos muito certinhos. Nunca esqueceu Coimbra. Rejeitando ser uma Instituição aceitou com dificuldade ser homenageado pelo município de Coimbra então liderado por Fernando Mendes Silva. Este, ao fazer a entrega da chave da cidade ao cantor-militante-autor que já tinha recebido a Medalha de Ouro de Coimbra, disse-lhe: ZECA, VOLTA SEMPRE, A CASA É TUA.
Numa noite pujante de juventude e cheiro a Primavera ZECA falou aos jovens e convidou-os a não ficarem em sossego. O JARDIM DA SEREIA encheu-se de admiradores e de amigos que lhe cantaram canções suas ou lhe dedicaram poesia em prosa dita e escrita pelo coração. A doença, após ser descoberta, permitiu-lhe viver pouco mais de cinco anos. Do enorme ZECA de quem tantos tiveram “medo” por ser sinónimo de “revolução” pelo canto e pela palavra, ficou uma obra hoje aplaudida e reconhecida por todos os quadrantes.
É da história: os revolucionários nem sempre colhem unanimidade no seu tempo, mas serão HISTÓRICOS. A SUA OBRA FICA PARA ALÉM DA VIDA VIVIDA.O reconhecimento de JOSÉ AFONSO é unânime e há muito que ultrapassa fronteiras. Zeca nasceu em Aveiro em 1929, mas foi desta Coimbra da Utopia e desta Cidade da Alegria que viajou para o mundo no plano artístico. De Coimbra para o mundo.Ouçamos as suas criações e interpretações como forma de uma homenagem permanente. De reconhecimento sempiterno. Foi isso que aconteceu ontem no Conservatório de Música de Coimbra.

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