Sansão Coelho em 10.março.2015
Este nosso Povo Português considerado por Fernando Pessoa navio nação, conceito mudado para nação-navio (pelo notável ensaísta, natural da Guarda, Eduardo Lourenço), a percorrer os mares do mundo, pioneiro das Globalizações, é aquele mesmo povo que peregrinou com o montemorense Fernão Mendes Pinto pelos exotismos da China e do Japão. Somos descendentes do povo que espalhou e perfumou com as suas marcas identitárias e com a língua portuguesa territórios tão distantes como Brasil e Timor-Leste, São Tomé ou Moçambique. Ou a nossa irmã Angola, país cada vez mais próximo, onde há ruas na sua capital de São Paulo de Assunção de Luanda a fazerem lembrar calçadas da baixinha de Coimbra ou o alfacinha Bairro Alto.
Quando escuto um Fado de Coimbra mais nostálgico (há alguns bem
ritmados e alegres) sinto cantar naquele jeito singular e coleante o angolano Elias dia Kimuezu sob os coqueiros do Mussulo ou no Bairro Operário; ou meu amigo e cantor Mário Gama barítono emocionante impregnado de religiosidade e de branco vestido, qual sacerdote de boa vontade; ou pressinto uma rebita na Ilha de Luanda; e sinto-me envolto no primitivo, melancólico e choroso lundum e nas sonoridades da modinha como um exercício flutuante de afetos e interação. Quanto mais se definem as marcas da
Identidade de uma nova Angola, de um afirmado Timor ou de um empreendedor e solidário Brasil mais cresce no mundo o espaço para o Galo de Barcelos, para o Bacalhau, para a Sardinha Assada a pingar na broa, para o golo mágico de Cristiano Ronaldo, para os tapetes de Arraiolos e de Almalaguês, para as Colchas de Castelo Branco, os lenços dos Namorados de “Viana”, a Chanfana, o pastel de Tentúgal, esse manjar conventual tão ao gosto de António Nobre ou, mais recentemente, de José Saramago que nos devolveu orgulho e um Prémio Nobel. Na sua penúltima ida ao concelho de Montemor-o-Velho o escritor José Saramago teve conhecimento de que os sinos do Mosteiro de Tentúgal tinham de ser reparados. De forma discreta, e só mais tarde tivemos conhecimento do facto, o nosso Nobel da Literatura passou um cheque de valor significativo para comparticipar na reparação. Saramago, o quase ateu que, afinal, tanto entendia de Deus e NO-LO trouxe de forma clara e lúcida, em textos brilhantes que apetece reler.
Somos um povo-contraste e de contrastes. Mas somos, provavelmente, um povo que reflete as vivências comuns que tivemos, intramuros (mas que muros, os da alva serrania da Estrela?) ou em distantes paragens já então sobrevestidos de Viriatos invencíveis ou melhor: só vencidos à má-fé.
Sou português e europeu (mas cada vez mais português lusófono) a preto e branco, coração prenhe de cores vermelho e verde, a gritar pela Pátria e pelo seu Progresso, pela nossa História feita de tolerância e de enormes capacidades escondidas, registadas, contudo, no luso ADN.
Em cada um de nós há um cheiro a maresia e a mar, a viagem e a traineira, a possível e impossível, a Deus e a Diabo, a Tudo e Nada, mas com a certeza de que poucos povos houve como o nosso a dar-se ao Outro num exercício futurista de definição de Novas Sociabilidades. Talvez isto nos faça perceber porque é que somos tão ligados aos povos que colonizámos a quem chamamos de irmãos, e amamos mais do que em qualquer das melhores fraternidades.
Sou português, angolano, moçambicano, brasileiro, lusófono militante, tenho a pátria na Língua Portuguesa e o coração nesse tal Navio que se chama Sôdade, Saudade, Futuro, Coabitação
sob a capa linda e maravilhosa da Lusofonia.
E o Coimbra Canal assume as suas responsabilidades em ser, de Coimbra para o mundo, um forte Farol de Lusofonia. Só assim reconheceremos a nossa identidade de hoje e do futuro.
Para sempre.
Em breve daremos pormenores do que pode ver, ler e escutar no Coimbra Canal para sentir o calor da Lusofonia emitido “em direto” da Chama da Pátria: Coimbra.
Interatividade: sansão coelho@coimbracanal.com