MUSEU DE ALVAIÁZERE | JUNHO DE 2015
Nos dias que correm, em que o tempo é acelerado e vertiginoso, parar para pensar ou para desfrutar de algo no tempo lento da reflexão e no modo do exercício imaginativo das variações de perspetivas e das infinitas versões em que a realidade se sugere, torna-se uma tarefa cada vez mais rara.
No frémito dos dias de hoje, parece que estamos sempre, apenas e só, de passagem, tocando momentaneamente a superfície das coisas, sempre sem tempo para nos determos perante o que de nós requer uma disponibilidade mais afoita e dedicada.
Não estar apenas de passagem mas, pelo contrário, procurar pontos de paragem, é o mote, e o espírito, que anima a presente exposição fotográfica de Valdemar Jorge.
As suas fotografias convidam-nos a parar e a surpreendermo-nos com ângulos que nos levam sempre para além do que ficou fixado no momento do disparo. Elas convidam a um segundo olhar e, dessa forma, a interromper com o mundo do dejà vue, a mergulhar no bailado das significações possíveis, na contingência dos significados eventuais e no espanto deleitoso das perspetivas inauditas.
Valdemar Jorge utiliza a sua máquina fotográfica como um instrumento de desenho, utilizando os recursos de enquadramento, de zoom, de cor e tantos outros, para criar um viés visual que desvela o habitualmente inobservado.
Ao mesmo tempo que fotógrafa, Valdemar faz um exercício de sensibilidade que muitas vezes obriga a repetir o gesto do clique e que nem sempre alcança a visibilidade pretendida. Por isso, ele encara este trabalho prazeroso como um desafio que muitas vezes exige esperar pelo momento certo e pelas condições que podem envolver de magia um olhar diferente.
De há muito que sou amigo do Valdemar e sempre o conheci como um amante da fotografia. Ele tem o gosto de quem procura a gratificação da experiência estética e não o cumprimento de uma função profissional. Por isso a fotografia é, para ele, um abrigo, um espaço de gratuidade e uma forma de partilha.
Juntos, já passamos horas a olhar para as suas fotografias, a descobrir minudências inesperadas que, de repente, saltam das imagens, a sorrir perante a forma inaudita como, por exemplo, nos dá a ver Coimbra – um motivo recorrente no seu espólio fotográfico – mas, também, outros locais, e a tecer variações imaginativas que ampliam os nossos horizontes percetivos. Esses exercícios aliam a fruição estética a um sentimento de liberdade e de libertação que nos permite parar em vez de apenas passar e olhar sem ver.
Espero que os visitantes desta exposição possam beneficiar também desta partilha generosa que o Valdemar Jorge nos propõe e que, na paragem perante o parado das imagens, a passagem não represente falta de tempo, mas signifique, antes, o início de uma pequena viagem aos efeitos de surpresa das perspetivas que, fazendo-nos fruir, nos mergulham nas visibilidades plurais e infinitas do mundo.
Rui Alexandre Grácio