O HUMOR E A PIADA
O humor era um individuo com amor próprio.
Muito cheio do seu nariz. Não era nada óbvio,
tinha um irresistível “je ne sais pas quoi”
que atraía as pessoas, vestia bem, era popular
e falava a linguagem que soava bem ao ouvido
das pessoas.
Tinha facilidade em criar inimigos,
porque era uma forma de cultura independente,
indomável e muito assertiva.
Amigos também os tinha, indefectíveis,
mas, à medida que cresciam,
afastavam-se e deixavam de compreender
a idiossincrasia do humor: teimava em ser independente, em não se vender, em não ter linha editorial,
em ser livre, em dizer o que lhe desse na real gana
e, imaginem, em não gostar de fazer parte de pequenos, nem de grandes, grupos.
O humor era chato de tão casmurro que era.
De repente, a populaça descobre a piada.
Uma mulher vistosa, muito agradável e consensual
(esse conceito está na ordem do dia – ehehe).
O que diz agrada de imediato e a sua forma de ser
é muito fresca. Conheceu o humor e de imediato o matou: sem namoro, nem sexo, nem nada… morte a frio.
Não porque não gostasse dele. Ou porque
tivesse alguma coisa contra ele. Mas irritava-a solenemente a forma como ele dizia as coisas,
com frases nada óbvias, com indirectas e com inteligência que obrigava a reflectir.
Não.
Este ofício tinha de ser de entendimento fácil, sorriso imediato e gargalhada repentina.
No final não podia ficar nada,
porque rir é só isso, um momento.
Matou o humor e fez com que desaparecesse,
para não restar nem um leve vestígio da sua existência.
Este mundo, dominado pela piada, não faz a menor ideia do que foi o humor, para que serviu
e qual era o seu modo de vida.
O humor perdeu.
Perdemos todos.
Texto da responsabilidade do Senhor Ministro da Informação e Instrução do governo sombra – Movimento Humor.
Desenho do ministro sem pasta José Gomes